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Compreendendo aspectos culturais da Antiguidade.

Templos de Abu Simbel

Conheça mais o complexo de templos construídos por um dos maiores faraós da história, Ramsés II - O grande.

Heracleion é descoberta

A cidade de Cleópatra que permaneceu por mais de milênios submersa é encontrada por arqueólogos, saiba como foi a descoberta e veja fotos.

Morre Prof. Dr. Ciro Flamarion

Uma grande perca para a historiologia brasileira e mundial, saiba um pouco mais sobre esse gênio brasileiro e conheça suas principais obras.

21 de agosto de 2018

Sarcófago encontrado em Alexandria: Resultado dos estudos

No domingo, o Ministério de Antiguidades anunciou o resultado dos estudos arqueológicos realizados por uma equipe de pesquisadores sobre os esqueletos encontrados no interior do sarcófago de granito negro descoberto no início do mês passado no distrito de Sidi Gaber, em Alexandria.

Sarcófago encontrado em 01/07/2018


O Dr. Mostafa Waziri, Secretário-Geral do Conselho Supremo de Antiguidades, anunciou que os estudos preliminares realizados por uma equipe de pesquisadores liderada pelo Dr. Zeinab Hasheesh, determinaram o sexo e a idade dos esqueletos encontrados dentro do sarcófago, de acordo com a anatomia dos crânios, pelve e ossos longitudinais através do exame antropológico.
Ele acrescentou que a equipe também encontrou placas de ouro dentro dos ossos dos esqueletos que serão estudadas.
Nadia Kheider, chefe do Departamento Central de Antiguidades do Baixo Egito, disse que o primeiro esqueleto pertence a uma mulher que tinha entre 20 e 25 anos de idade, com uma altura entre 160 e 164 cm. O segundo pertence a um homem com idade entre 35 e 39 anos, com altura variando entre 160 a 165,5 cm, enquanto o terceiro esqueleto é de um homem entre 40 e 44 anos e com altura entre 179 a 184,5 cm. Ela ressaltou que os estudos no osso direito localizado na região posterior do crânio mostram uma cavidade arredondada de 17 cm de largura feita através de uma intervenção cirúrgica. De acordo com os estudos, quem sofreu essa cirurgia ainda viveu por um longo período.





O crânio de um dos homens possui um oríficio com cerca de 17 cm de diâmetro.

O Dr. Hasheesh informou que é provavelmente uma cirurgia de “Trepanação” onde um buraco de broca perfura ou raspa um crânio humano. "Esta cirurgia é a mais antiga intervenção cirúrgica já conhecida desde a pré-história, mas era rara no Egito", disse Hasheesh.
Ele acrescentou que poucos crânios com esta cirurgia foram encontrados no Egito. O museu do Hospital Qasr Al-Eini apresenta alguns exemplos, como os que foram encontrados na tumba da XVIII dinastia do tesoureiro Maya e sua esposa Meryt, na Nécropole de Saqqara. A pesquisa também indicou que muito provavelmente os processos de enterro dentro do sarcófago foram realizados em duas fases consecutivas, já que cada esqueleto foi encontrado um em cima do outro.


Sarcófago aberto em 19/07/2018
Junto aos esqueletos também foram encontradas três placas de ouro e por ora não há qualquer informação sobre o significado dos desenhos. Especula-se que sejam distintivos militares, porém, aguardaremos outros comunicados do Ministério de Antiguidades a respeito.


O chefe do Setor de Antiguidades Egípcias Antigas, Dr. Ayaman Ashmawy, disse que os pesquisadores limparam todos os restos encontrados dentro do sarcófago e documentaram arqueologicamente todos os ossos e crânios, bem como as placas de ouro. Ele apontou que a cor estranha da água encontrada dentro do sarcófago é resultado da mistura de água de esgoto com restos de tecidos dos esqueletos que foram decompostos. Inúmeras análises foram realizadas na água para descobrir mais sobre seus componentes.
O Dr. Waziri também afirmou que mais pesquisas e estudos serão realizados, bem como testes de DNA e tomografia computadorizada nos esqueletos para saber mais sobre eles e se têm algum parentesco.



 






Fonte e imagens: Ministry of Antiquities

Tradução e adaptação: Mirian Aud

23 de setembro de 2014

VISÃO GERAL DO EROTISMO NO ANTIGO EGITO

O erotismo egípcio antigo pode ser representado, basicamente, em três tipos de fontes. A primeira delas pode ser encontrada na forma de imagens gráficas (papiros, gravação sobre pedras, utensílios domésticos, etc.), a segunda em redações literárias (como poemas) e a terceira nas chamadas "artes práticas" (textos médicos, diários de viagens, etc.). Entretanto, a quantidade de fontes que encontramos relacionadas à temática sexual-erótica é escassa e quando encontrada, na maioria das vezes, carece de conservação. Sexualidade e erotismo estavam ligados a um modo religioso de ver o mundo por parte dos antigos egípcios. As manifestações de caráter erótico não eram vistas como "mundanas" pela população do Nilo. Pelo contrário. Eram relacionadas com rituais de fertilidade que garantiam a fecundidade das terras próximas ao Nilo. Deuses com histórias mitológicas carregadas de sexualidade eram Osíris, Ísis, Seth e Hórus (outros casos também existem).

EL-QHAMID; TOLEDANO, Joseph. Erotismo e sexualidade no Antigo Egito. Ediciones Folio S.A.: Barcelona, 2007. p. 57.
Cena do Papiro Erótico de Turim onde observamos a carência de conservação da fonte.

Cena acima reconstruída
Cena acima reconstruída
O Papiro Erótico de Turim, encontrado em Deir el-Medina, é a fonte escrita mais conhecida quando se trata de estudos relativos ao erotismo na Terra dos Faraós. Armazenado no Museu Egípcio de Turim, está em um avançado estado de deterioração. Basicamente ele apresenta uma sequência de doze cenas que envolvia uma orgia entre homens e mulheres. O papiro é guardado com bastante cuidado e necessita-se de uma autorização especial para analisá-lo de perto. Curiosamente, tal como os gibis modernos, algumas das cenas libertinas exibem um pequeno texto anexo. Seria um recurso explicativo? A região de Deir el-Medina tinha uma considerável produção de artefatos relacionados ao erotismo. Se grande era a produção, maior ainda, podemos cogitar, que seria a demanda. “[...] A extraordinária importância que as classes mais baixas do Egito antigo davam a sexualidade foi retratada nos achados arqueológicos. [...]” (EL-QHAMID; TOLEDANO, 2007: p. 23).
Para os antigos habitantes do Nilo cada órgão ou ato sexual poderia apresentar uma dúzia de sinônimos, sendo o homem, sempre, o elemento dominante do erotismo egípcio. Os autores de “Erotismo e Sexualidade no Antigo Egito”, El-Qhamid e Joseph Toledano, também nos falam a respeito da chamada “prostituição ritual” que acontecia tanto nos arredores do Egito quanto no próprio Egito: “[...] Nas culturas vizinhas do Egito, a prostituição ritual era muito difundida, e nos centros de culto religioso havia prostíbulos ‘para a glória do deus’. Como resultado da prostituição ritual, os lugares sagrados eram decorados com pinturas e esculturas eróticas que serviam de chamariz. Em contrapartida, não existe unanimidade em torno da ideia de que, no Egito, a prostituição tenha sido institucionalizada [...].” (EL-QHAMID; TOLEDANO, 2007: p. 24).
Um fato bastante interessante dentro desta temática sexual-erótica, são os dados relativos ao adultério, ato que seria praticado pelas mulheres dos trabalhadores do Vale dos Reis. Os operários eram naturais de Deir el-Medina e iam para o Vale trabalhar na construção das tumbas. Ficavam por um período de dez dias e após isso voltavam para suas casas para descansarem num intervalo de três dias. O tempo em que os maridos estavam fora de casa era “hora perfeita” para o adultério feminino acontecer. Em outros relatos vemos casos de homens e mulheres que se relacionavam intimamente com animais (zoofilia). Entretanto, tendo em vista que viviam sobre uma cultura diferenciada, necessitamos perceber que esse ato tinha caráter religioso para os egípcios. A homossexualidade masculina era relativamente tolerada, graças, principalmente pelas aventuras entre Seth e Hórus. O lesbianismo aparecia em alguns textos, mas era menos frequente.

Reconstrução do Papiro Erótico de Turim
Reconstrução de parte do Papiro Erótico de Turim

Muito populares na época estavam os amuletos e remédios para melhorar o desempenho sexual. Receitas para cessar a impotência, aumentar a fertilidade e até precaver a gravidez indesejada já eram de uso habitual entre homens e mulheres desde os tempos faraônicos. E, ao contrário do que ainda conseguimos perceber na sociedade atual, erotismo e sexualidade não encarados como tabu pelos antigos egípcios. Tudo era uma questão de costume ou então, de um ponto de vista religioso.


REFERÊNCIAS:
EL-QHAMID; TOLEDANO, Joseph. Erotismo e sexualidade no Antigo Egito. Ediciones Folio S.A.: Barcelona, 2007. p.p. 13-29.

14 de setembro de 2014

O papel da mulher no Antigo Egito

Amon-Rá abençoando a rainha Hatshepsut com honras de faraó.
 Relevo do deus Amon-Rá abençoando a rainha Hatshepsut com honras de faraó.
Mesmo desde a época pré-dinástica e, sobretudo no período dinástico, a mulher egípcia já desfrutava de uma invejável posição sócio-política-cultural, chegando, em certos períodos, a equiparar-se ao homem. Seu prestígio era bem mais acentuado que o de suas contemporâneas de sociedades vizinhas. Historiadores gregos, como Heródoto, Plutarco, Diodoro e Hecateu de Mileto, ficaram surpresos diante da hierarquia que a mulher egípcia ocupava na comunidade. Juridicamente, possuía os mesmos direitos, prerrogativas e as mesmas responsabilidades.

Podiam dispor de bens próprios e ser proprietárias de terras por elas mesmas administradas; participavam de transações comerciais; também herdavam bens e faziam testamentos. Quando se casavam, continuavam a dispor de seus bens e, em caso de separação do cônjuge, tinham seus direitos garantidos. Iguais perante aos códigos de leis, podiam apresentar-se diante dos tribunais como acusadoras, defensoras ou testemunhas. Eram responsáveis pelos seus atos e, igualmente, estavam sujeitas às mesmas penalidades ou castigadas com a mesma severidade que as dispensadas aos homens.

A condição normal da mulher era a de casada, constituindo parte de uma família monogâmica, núcleo da sociedade egípcia na época faraônica. As representações de casais e seus filhos mostram a importância da estrutura familiar e o papel fundamental representado pela mulher. Esse prestígio de que a mulher egípcia gozava se fazia sentir, não só no setor político e religioso, mas ainda na esfera social e nas diversas profissões de nível superior. Há relatos de duas médicas que ficaram conhecidas no Antigo Egito, inclusive exercendo cargos de chefia e outros de trabalho de grande responsabilidade.

A primeira médica citada nos textos é NEFERICA-RÁ ou NEFER-KA-RÁ, médica-obstetra que atuou na corte do Faraó SAHURÁ – 5ª. Dinastia (2494-2345 a.C.). Outra médica, mais citada nos textos, foi PESESHET que atuou durante o reinado do Faraó Amenhotep III – 18ª. Dinastia – Novo Império (1552-1305 a.C.). Exerceu suas funções como “diretora de equipe de médicos” e, nas representações, era sempre citada como “aquela que arbitra” ou “aquela que decide”, confirmando sua posição como uma autoridade conceituada no âmbito da Medicina. PESESHET foi homenageada por seu filho, o Sacerdote Akhet-Hetep, que lhe dedicou uma Estela comemorativa em Gizé, na qual estão claramente gravados o nome e os títulos honoríficos de sua mãe.


Devemos ressaltar que a posição sócio-cultural e profissional alcançada pela mulher não se restringia apenas àquelas pertencentes à nobreza. Também as mulheres do povo desfrutavam de dignidade e de respeito na sociedade faraônica.Mas, o auge do prestígio da mulher no Antigo Egito pode ser facilmente avaliado pelas importantes realizações no âmbito religioso e na realeza. Princesas e as esposas dos faraós exerciam atividades de grande relevo nas práticas religiosas. Eram as “Divinas Adoradoras de Amon” – “Divinas Esposas Reais” – “Mães do Faraó-Deus” – “Cantoras de Amon”. Participavam ativamente dos rituais de oferendas às divindades, cerimônias de consagração e de jubileus, orações e procissões de barcas sagradas.


Em toda essa representatividade a mulher, como sacerdotisa da divindade (de ÍSIS, de HATHOR, de SEKHEMET) tinha um papel preponderante, mormente naqueles rituais em que se celebrava o nascimento do “Filho Divino”, do Faraó-Deus, representados profusamente nos santuários dos “mamisis”, em vários templos. E, como corolário desse prestígio, não podemos deixar de citar as famosas “rainhas-Faraós”, cujos nomes a história tem conservado tão zelosamente e que exerceram suas funções como soberanas incontestes, dedicando suas vidas aos ideais de bem governar o Egito, a grande potência da Antiguidade.

Tumba de Nefertari no Vale das rainhas.
Nefertari, a esposa real do faraó Ramsés II (XIXª dinastia). 

Eis-nos, então, diante de uma plêiade de rainhas autênticas e consagradas: – Nitócris – Hatchepsut – Nefertiti – Tausert – Cleópatra – nomes que os séculos têm repetido e relembrado como mulheres que gravaram em suas vidas os marcos da glória e do poder.



Texto do Professor, doutor, e membro do ex-Centro de Egiptologia e atual GEAF (Grupo de estudos avançados) Prof. Dr. Geraldo Rosa Lopes.


Referências bibliográficas.
LOPES, Geraldo Rosa. O Papel da Mulher no Antigo Egito.

27 de agosto de 2014

Egito, terra africana.



Um dos assuntos mais controvertidos em termos de historiografia é a relação entre o Antigo Egito e povos de fenótipo negroide, tendo como questão central a pergunta “qual era a raça dos antigos egípcios?”. Dificilmente, porém, se para para se questionar o que significa o termo “raça”.

“Raça” é uma palavra que se refere biologicamente a grupos humanos. Animais não possuem raça, possuem, quando muito subespécies, a não ser no caso de animais domesticados (cães, gatos, gado bovino, ovino e caprino, cavalos e muares, galináceos, etc.) todos manipulados artificialmente para servirem a propósitos HUMANOS. No contexto da humanidade não é diferente. As raças não pertencem à natureza, mas ao social. Enfim, o conceito de raça define diferenças externas socialmente definidas e qualificadas, e só apontam para DIFERENÇAS SOCIAIS e não para DIFERENÇAS NATURAIS. Assim, as diferenças físicas marcam especificidades valoradas socialmente, havendo então as “raças superiores”, cuja aparência é socialmente mais desejada, às quais são atribuídas as características morais mais positivas e características cognitivas de excelência, e toda uma hierarquia de “raças inferiores”, cuja aparência é socialmente mais rechaçada e estigmatizada, às quais são atribuídas as características morais mais positivas e características cognitivas deficitárias. Enfim, o bem, o bom e o belo estaria do lado da “raça superior” e o mal, o ruim e o feio estaria do lado da “raça inferior”. A Natureza, porém não possui nenhum destes atributos. Desta forma, pertencer ou não a uma raça ou outra tem somente importância social ou pessoal, mas nenhuma relevância objetiva ou racional.

No entanto, historicamente falando, a questão da raça teve um papel fundamental na história recente da Humanidade, no que tange à questão do colonialismo e do escravismo moderno, que se utilizaram da ideia de raça, que providencialmente se converteu em “ciência” ao longo do século XIX para subjugar povos inteiros, reduzindo milhões de seres humanos às condições mais abjetas. A raça, antes um conceito fluido e relativo, se tornou uma “realidade”, com consequências catastróficas no mundo moderno e contemporâneo. Infelizmente, a luta contra estes efeitos catastróficos poucas vezes se dirigiu contra a sua causa principal: a invenção da ideia de raça, e continuou considerando-a algo realmente verdadeiro.

A História foi utilizada como justificativa para legitimar este conceito espúrio, com o discurso de que “raças inferiores” jamais seriam capazes de sozinhas construírem uma “civilização”, que sempre teriam existido indivíduos de “raças superiores” na fundação das várias civilizações do mundo, o que ajudou a forjar os mitos dos “loiros perdidos” nos confins da África, Ásia e mesmo nas Américas, contidos nos romances de H. Rider Haggard, Edgar Rice Burroughs ou mesmo no Livro de Mórmon.


Uma das reações a estas ideias partiu da luta anticolonialista e anti-racista que, com grande ardor militante, começou a defender ideias totalmente opostas. Mas infelizmente, sem abandonar o racialismo, apenas o colocaram do avesso, sem destruí-lo realmente. Onde haveriam brancos no começo de tudo, passaram a enxergar negros por toda parte. Estas ideias nascidas nos Estados Unidos, levavam consigo o código racial estadunidense, onde “uma gota de sangue negro” tornaria a pessoa negra. É verdade que, sob esta perspectiva, parte considerável dos povos da Bacia do Mediterrâneo e Oriente Médio jamais poderiam ser declarados “brancos” nos EUA, ainda que muitos pudessem passar como tais. Mas se esquece que o conceito de raça é SOCIAL, e o que caracteriza raças “superiores” e “inferiores” nos EUA não necessariamente pode servir como regra para o resto da humanidade, sobretudo em lugares como o Norte da África, Oriente Médio ou mesmo América Latina. Assim mesmo, esta corrente intelectual, que tenta se legitimar como científica, declara que os Antigos Egípcios eram “negroides”, usando o mesmo tipo de argumento que o discurso racista utiliza, mas com sinal invertido. Essa corrente é conhecida como AFROCENTRISMO.



Estátua Retrato de Ka-Aper, 5ª Dinastia (2450-2350 aC). 
(c) Museu Egípcio do Cairo.
Histórica e socialmente falando, o termo “África” sempre foi associado com “negro”. Assim a ideia do afrocentrismo poderia mais ser considerada um “negrocentrismo”, pois tende a desconsiderar várias populações legitimamente africanas que não possuem o fenótipo negroide e, pior, acabam na esparrela de estereotipar a África como local de um povo só, como defendia o discurso colonialista, cuja divisão se faria apenas em “tribos”, e não por uma enorme diversidade de nações, culturas e mesmo de tipos físicos. Há vários tipos diferentes de negroides, ademais, muitos destes nem são originários da África, como os nativos da Melanésia ou da Papua Nova Guiné que, mesmo sendo fenotipicamente negroides, são mais próximos geneticamente dos chineses do que dos congoleses. Enfim, toda esta discussão sobre “raça” ou sobre “negro = África” não tem muito sentido.

Na corrente racialista colonialista, a História do Antigo Egito obedecia os ditames da ideia de “raças superiores” X “raças inferiores”, em que povos caucasoides vindos da Ásia teriam se instalado no Delta do Nilo e eventualmente submetido povos mestiços de negroides do sul, e assim criado a Civilização Antigo Egípcia, na assim chamada "Hipótese da Raça Dinástica". Mas muito cedo, a Arqueologia foi desvendando que o caso teria sido parcialmente o oposto: foram populações autóctones do Alto Egito, presentes na região desde o epipaleolítico que impuseram sua suserania a populações do norte, parcialmente oriundas da Ásia mescladas com outras também do oeste.

Os estados pré-dinásticos do Alto Egito cuja disputa conduziu à unificação do país eram formados, segundo a arqueologia e a paleoantropologia, por indivíduos de diferentes tipos físicos. Haviam pessoas de tipo negroide, esguios, baixos e crânios arredondados, que se veem hoje em dia entre algumas populações da Baixa Núbia e Eritréia/Somália, tipos simplesmente mediterrâneos, de crânio pequeno e mais ou menos alongado, e do tipo berbere “grácil”, de rosto comprido e crânio achatado (capsiano), alguns, cujos cadáveres se mumificou naturalmente, com cabelos loiros e ruivos. Todos estes tipos compunham tanto a elite como a “plebe” local, não havendo sinais evidentes entre a preponderância social de um tipo sobre o outro. Não parece ter sido uma sociedade “racista”.

Os povos do Delta e do Faiyoum pré-dinástico são menos conhecidos. Mas o tipo núbio acima citado e o tipo berbere “grosseiro” (iberomaurusiano ou mechtóide), corpulento e cabeça grande, parecem ter sido os mais antigos, e depois levas do tipo armenóide-caucásico foram se instalando gradualmente no final da época pré-dinástica, vindos da Ásia. No entanto, as populações do sul já descritas constituíram o grosso classe dominante no período dinástico, mesmo com a transferência da capital para Mênfis, e assim se mantiveram ao longo dos séculos, mas também misturando-se aos nortistas.

Todos estes tipos e suas combinações mútuas constituíram a base do população do Egito dinástico, e se encontram lá até hoje em dia. Ao lado de vários outros povos que subsequentemente lá entraram, mas que nunca se constituíram em maioria no país. Os egípcios do sul não são “imigrantes sudaneses” como as vezes os egípcios no norte os rotulam, e nem os egípcios do norte são “turcos e albaneses” como os egípcios do sul as vezes os acusam. São todos, em sua diversidade, legitimamente egípcios, e seus ancestrais serviram aos faraós, respeitavam divindades com cabeça de animais e viram as pirâmides serem levantadas. Hoje em dia todos se consideram “árabes” por sua língua, cultura e religião, não importa que sejam loiros de olhos verdes ou pretos como azeviche, o que não significa, de jeito nenhum que os árabes tenham em algum momento invadido massivamente o Egito e massacrado sua população. Eles apenas dominaram militarmente o país e impuseram a ele seus costumes, como fizeram outros povos antes e depois.

No caso dos antigos egípcios, as múmias, os restos mortais e algumas representações artísticas mais realistas mostram que, como hoje, antigamente, não havia um tipo egípcio único, mas que a maioria da população, como hoje em dia também, não cabia na descrição de “branco” no sentido europeu ou estadunidense. Eles então se definiam simplesmente como Remtju Ta-Kemet, As Pessoas da Terra Negra. “Negra” não da “raça”, já que o conceito de “raça negra” só iria aparecer no final da Idade Média, mas do lodo fértil do vale do Nilo que lhes possibilitou uma rica civilização, constituída por pessoas de diferentes tipos e suas várias misturas e que, como tentamos pensar a Humanidade nos dias de hoje, se viam como um só povo, cuja arte convencionalmente representava como tipos ideais que sintetizam toda sua diversidade, e que conceitos pobres e estreitos como “raça” são insuficientes para definir.

Na foto, jovens recrutas egípcios, de perfil bem faraônico..

Afinal, como eram os antigos egípcios?
Egípcios são etnicamente árabes, por falarem a língua árabe e sua cultura ser predominantemente de origem árabe, sobretudo a parte religiosa. Mas fenotipicamente são diferentes tanto dos árabes como dos africanos subsaarianos, e ligeiramente diferentes
de seus vizinhos berberes, ainda que possam trazer traços de todos eles! Egípcios são, foram e ainda serão (Inshallah!) egípcios.


Faraó Akhenaton e rapaz fotografado nas ruas do Cairo em 1912.


Muito se fala atualmente que o povo do Antigo Egito se extinguiu, que era uma gente diferente da que existe hoje lá, a qual seria originada de subsequentes invasões e colonizações de líbios, persas, macedônios, gregos, romanos, árabes, turcos, circassianos e armênios. Sim, estes povos vieram e participaram do caldeamento genético do Egito atual. No entanto, o atual conhecimento da genética aponta: mais da metade do DNA da população do Egito moderno já estava lá nos tempos das pirâmides, e em algumas regiões, esta proporção alcança quase 70% (e talvez mais, nos recônditos mais rurais).

Para todos os efeitos, quem quer saber como eram os antigos egípcios basta olhar para os egípcios de hoje, sobretudo os das camadas mais populares e os da parte sul do país.


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Postagens referência.
1. https://www.facebook.com/photo.php?fbid=675984265778973
2. https://www.facebook.com/photo.php?fbid=676029255774474
3. https://www.facebook.com/photo.php?fbid=676056275771772

ILUSTRAÇÃO: Faraó Akhenaton
e rapaz fotografado nas ruas do Cairo em 1912.
5. https://www.facebook.com/photo.php?fbid=663118740398859

Mais postagens sobre a Civilização Egípcia (atualizado frequentemente)
https://www.facebook.com/media/set/?set=a.676011412442925.1073741850.301524119891658

Legendas, imagem do topo;

Esquerda: Estátua Retrato de Ka-Aper, a partir de sua mastaba em Saqqara, Egito, Quinta Dinastia. 2450-2350 aC. Madeira com olhos de cristal de rocha, 3 '7 1/4 "de altura. Museu , Cairo, Egípcio.

Direita superior: Prisioneiros núbios de fenótipo negroide sendo contabilizados por escribas egípcios de fenótipo... egípcio (?) Tumba de Horemheb (que depois se tornaria faraó) em Saqqara – 18ª Dinastia.

Direita inferior: A Human rainbow of skin colours by Sarah Leen, National Geographic Channel 2007

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Artigo de autoria do Prof. Dr. Robson Cruz, graduado em história, licenciatura e bacharelado pela Universidade Federal Fluminense, com especialização em história antiga, mestrado e doutorado pela UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro, autor e colaborador da página & grupo Egiptologia Brasil, publicado originalmente na página Egiptologia Brasil, e posteriormente adaptado ao site.

25 de agosto de 2014

[DOC] A Grande Família dos Felinos



Walt Disney explica nesse vídeo um pouco sobre a família dos felinos, primeiramente focando nos grandes leões selvagens e, posteriormente, nos gatos domésticos. É explicado a importância dos gatos no antigo Egito para o desenvolvimento dessa civilização e como as pessoas os respeitavam, eram literalmente deuses. O vídeo cita também a perseguição injusta e covarde que fizeram com esse pobre animal na idade média, tudo baseado em superstições e crendices.


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